Ato em defesa da Petrobras reúne mais de 2 mil pessoas na Alba

Publicado: 24 de setembro de 2019

Mais de 2 mil pessoas lotaram o auditório e se manifestaram no entorno da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), num dos maiores atos públicos da Casa, para protestar contra a saída da Petrobras na Bahia. Na pauta, a política privatista e de importação de combustíveis, o impacto na economia com o fechamento de unidades, política de preço e agravantes com o desemprego. Como desdobramentos, foi lançada uma frente parlamentar dos deputados estaduais, que vai atuar de forma semelhante e alinhada à comissão mista do Congresso Nacional, dialogando com um fórum de entidades e discutindo estratégias de mobilização e judiciais em defesa da Companhia. Os deputados se debruçarão sobre uma extensa pauta de reivindicações entregue pela categoria.

O ato, presidido pelo deputado Nelson Leal, foi uma iniciativa do Sindicado dos Petroleiros na Bahia (Sindipetro) e teve como proponentes os deputados Rosemberg Pinto (PT) e Robinson Almeida (PT). Autoridades, políticos, especialistas, ex diretores, lideranças sindicais, funcionários e pessoas solidárias à causa participaram da mobilização. Dentre as participações, vale a pena destacar as presenças do ex-diretor de Produção e Exploração de Petróleo e descobridor do Pré-Sal, Guilherme Estrella, do economista e pesquisador do Ineep, Willian Nozaki, o ex diretor da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

Segundo o coordenador do Sindpetro, Jairo Batista, os prejuízos na economia são enormes e os trabalhadores vivem constante ameaças. “Com o fechamento da Fábrica de Fertilizantes de Camaçari, a redução da produtividade da Refinaria Landulpho Alves, que opera hoje com metade da sua carga e, agora, com o anúncio do fechamento da Torre Pituba, serão mais de 18 mil postos de trabalho no Estado extintos”, denuncia. Entoando o coro “A Petrobras Fica”, ele falou que, apesar das ameaças constantes de desemprego, seguem mobilizados e farão de tudo para defender a empresa e o Brasil. “Não aceitamos a saída do estado e nos contrapomos às decisões políticas, sem embasamento econômico”, reafirma. Sobre as transferências para outros estados, Batista avalia que as decisões são desumanas e não levam em conta o impacto na vida das famílias.

O deputado e líder de Governo na Alba, Rosemberg Pinto, lembra que, quando o presidente Lula inicia seu mandato, a Petrobras estava com, aproximadamente, 30 mil trabalhadores diretos no estado e vinha diminuindo sua estrutura operacional, num processo avançado de terceirização. “Em pouco tempo, já eram 50 mil trabalhadores diretos e reduzimos as transferências para o as regiões Sul e Sudeste do país”, recorda. Mas a tragédia, segundo ele, era anunciada.  “A vida é feita de escolhas. Interrompemos um momento em que a Petrobras vinha no caminho da privatização e, vítimas de um golpe fatal, assistimos à destruição do Marco Regulatório, da hibernação e, em seguida, do fechamento da Fafen, numa manobra política. Ficamos ilhados”, lamenta o também ex-petroleiro. “A Bahia continuará com a Petrobras, não abrimos mão desse patrimônio”, defendeu o parlamentar diante de muitos aplausos e do compromisso assumido pela Casa de constituição da Frente.

Pré-Sal

O ex-diretor de produção e Exploração da Petrobras e descobridor do Pré-Sal, Guilherme Estrella, deu uma enorme contribuição para o evento e denuncia um processo acelerado de privatização. Estrella falou ainda da importância das empresas estatais, na sua origem, para que o estado (através delas) estivesse presente para fomentar o desenvolvimento, minimamente autônomo, em defesa dos interesses nacionais.  Segundo ele, o país éa grande ambição de capitais internacionais. “O Brasil é o quinto país do mundo em território, ainda temos a maior floresta equatorial do planeta, somos o segundo maior produtor de alimentos, temos a maior província mineral do planeta e um potencial ainda desconhecido no setor, temos os dois maiores aquíferos subterrâneos”, enumerou.

Estrella lembra que, quando Governo Lula entra, é interrompido o processo de submissão e a Petrobras retoma a sua missão de descobrir petróleo no Brasil, além da Bacia de Campos. “O Pré-Sal veio dar ao Brasil a soberania energética tão desejada para o século XXI inteiro, um protagonismo industrial, genuinamente brasileiro. Produto de um processo eleitoral fraudado, infelizmente, com o apoio da Justiça brasileira”.  Para ele, a extinção da Petrobras na Bahia, é um crime contra a história e todo o simbolismo que representa. “Aqui, são as raízes da Companhia, onde começou o aprendizado no campo terrestre. A retirada da Petrobras do Nordeste e da Bahia não é política, econômica, operacional, ela é absolutamente ideológica, não é só uma ideologia de direita, ela é entreguista. Não estamos privatizando a economia, estamos desnacionalizando a economia nacional. Como podemos praticar no país preços internacionais de petróleo? Somos auto-suficientes e precisamos fazer o que já foi proposto por Gabrielli: Transformar a companhia num sistema integrado, para que o preço, para o consumidor final, seja o menor possível”argumenta.

Segundo o economista e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), Wilson Zonaki, a empresa é fundamental para o desenvolvimento industrial, tecnológico e regional. “Para se ter uma ideia do impacto, cada vez que a Petrobras investe R$1 bilhão, se gera o equivalente a R$1,28 para o PIB e cerca de 30 mil novos postos de trabalho”, destaca.

Sérgio Gabrielli foi mais realista e falou que o momento é muito difícil, que não há um horizonte real de retomada do crescimento da economia brasileira. “Nesse cenário, a destruição da Petrobras é estratégica, Inicialmente, acabam com sua reputação e tiram o orgulho do povo; o segundo momento, já vivenciado é o fatiamento e venda aos pedaços, e no terceiro momento, a privatização chegará. O Nordeste já está sendo excluído e começou pela Bahia, berço dessa companhia, onde se consolidou e se estruturou, com a maior diversidade de atividades do país. “Nós vamos reagir e dizer NÃO. É uma ameaça não só a Petrobras, mas ao povo brasileiro”.

Participaram ainda do Ato o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, o senador da República Jaques Wagner, os deputados federais Nelson Pelegrino e Walmir Assunção e Lídice da Mata, o líder do PT Marcelino Galo, além de outros parlamentares e prefeitos.